O ambiente era hostil, mas ansiavamos pela viagem. Queriamos descobrir qual era o final de "tudo", e as consequências que isso traria em experiências futuras . Talvez a idéia de explorar trilhas através de cânions, seria um tanto quanto: "extrema". Mas a necessidade era de: transcender, poder dissipar na terra que circunda debaixo das unhas; poder sentir a sobrevivência de uma planta que insisti em crescer fora de seu ambiente natural. Enfim, ver até onde suportariamos fadados ao meio, e a nós mesmos. Simplesmente, não pegamos nada, juntamos o pouco que tinhamos (nós), e nos perdemos no caminho de poeira que para nós nunca acabaria.
Nas primeiras pedras que avistamos, tudo tinha o brilho do novo, por isso não nos importavamos em transpirar, perder. Talvez era isso o que realmente nos mantinha firme, ânsia de não se importar com o que estava ao redor, com o que ensistia em martelar e tornar latente. Entretanto, o sol estava sangrento e nunca coagulava, tudo acabou quando ele tocou ao chão e misturou o vermelho sólido da terra com o vermelho líquido de suas queimaduras.
Ao notar o que aconteceu, percebi que distância entre um passo e outro ficava menor. As mãos dela suavam como se estivesse sentenciando algo, ou alguém (logo eu entenderia). Eu não posso dizer como ela estava, pois os sentidos as vezes nos enganam, e minha visão havia sido perdida após os anos, as cataratas ainda escorriam pela face.
O caminho ficava cada vez mais denso, sentia as depressões nos meus pés misturadas com a pó do ambiente. Mas eu simplesmente andava, como uma máquina condicionada a realizar um tipo de trabalho. Perguntei, onde você está me levando? E o silêncio se misturou ao eco daquele local. Eu pensava em diversas maneiras de atingila, porém, me dei conta que o calor de seu corpo estava acabando, e a superficie de contato de sua mão, cada vez mais era menor. Era um préludio do fim.
Ao chegar determinada altitude, ela parou. Mesmo assim, continuei a caminhar, mesmo não ouvindo mais seus passos. Caminhei, até que senti uma ausência de chão - parei. Olhei para trás, sentia que alguém ainda me observava - sorri. Sorri, sim! como se nada mais importasse; sorri, como se pesadelos fossem sonhos; como se as manhãs fossem pôr do sol. Mas, a minha simetria acusava: "ela teria coragem de conduzir um cego ao abismo!", porém, fiquei com minha convenção, mesmo que ela tivesse em desvantagem. E assim, dei o próximo passo ao nada. Estava tão pleno e lúcido do que queria fazer que degustei a ausência de superficie como alguém que devora o alimento com fome.
Entretanto, a certa altura, senti que não poderia mais voltar - retroceder. E neste exato momento cresceram-me asas, uma reação histéria e evolutiva à situação, uma adaptação rápida e continua ao meio que ensistia em conspirar contra meu favor. Aquela mistura divina de medo, fez com que eu voasse com asas do desespero até o sol. Segui meu destino ao pó, como súplica e concessão; dor e libertação; desespero e REDENÇÃO. Os meus restos povoaram os cânions, e fizeram parte do sol e do solo, as únicas coisas que realmente não me abandoram no trageto.