segunda-feira, 21 de julho de 2014

Echoes

      É tão desconfortante as manhãs em que o passado retorna à minha porta. Eu fico tateando pequenos azulejos dos quais nem lembro as cores. É uma imensa aquarela gigante, uma saudade que só o orgulho pra segurar. Mas é Domingo...e domingo é deprimente por si só. Então, eu à beira dos meus trinta, e ainda com uma fidelidade byroniana que chega a ser totalmente idiota.
      Imerso, não há outra palavra que defina o que sinto neste domingo, e em outros domingos. Acho que é porque domingo me lembra o fogão no quintal, polenta frita, risadas e uma promessa. Engraçado, tudo isso ao som de Kyoto Song's do The cure (essa música é nojenta e estranha, mas não consigo odiá-la). Mas foi em um domingo, em que os cristais foram quebrados e eu percebi que nunca seria feliz, pois afinal, todas as músicas tristes fazem sentido no domingo.






sábado, 23 de março de 2013

Terapia - Sinceridade

"Hoje não quero poemas, muito menos poesia, quero psicografar o que minha alma manda-me dizer".

    Há muito tempo não apareço por aqui (talvez por achar que não precisava mais). Mas a verdade é que  precisava de um momento de sobriedade comigo mesmo, longe da minha própria acidez. Afinal, a saga ainda não teve fim...não o que eu esperava. Quero um momento sincero, sem frases impactantes, só quero psicografar o que minha alma manda-me dizer (aliás, desabafar).

    Sempre achei que chegaria o dia em que todas as elegias da cadência do meu corpo iriam embora, até cheguei a pensar em um momento de redenção, sabe? Aqueles cujo um  "Insight" aparece e você começa a enxergar tudo de uma forma diferente, de uma nova perspectiva, isto é, você analisa  tudo o que viveu, e consegue tirar uma boa lição do seu próprio fracasso.  Bem isso não aconteceu, nem um anjo desceu do céu e com toda a sua luz pronunciou as palavras mágicas: you are healed (sempre achei que anjos tinham que falar inglês, rs)...

     O que está me cansando, realmente,  é ter que elaborar todos os dias um modo de viver diferente do anterior. Tudo pra desprender, poder fluir, poder dissipar - pensar sobre o que pensar. Acho que o pior paciente é aquele que acha que está curado, você tem como alicerces pequenos gravetos e tudo desaba de repente, em resumo, tudo o que você construiu nada mais é do que pequenas ruínas que insistem em desmoronar. Sempre tive espirito de elefante, sabe? Aqueles que vão morrer longe pra não incomodar a manada, me isolei! Acho que a decadência e a tristeza se sente, e acho muito chato ter que partilhar isso com alguém, ninguém merece! Então entre o limiar da loucura eu segui...fiz o que tinha que ser feito, sempre me escondo atrás de desculpas e de um sorriso de paz, mas não podemos esquecer que o império romano à  beira da  decadência tinha adotado o lema :"CARPE DIEM".

    Tive todas as chances do mundo para continuar a fazer este coração decadente pulsar de novo. Porém, tudo me pareceu uma maneira forçada de não ficar sozinho, algo do tipo: agarre as primeiras gramíneas para não cair do penhasco. Há pessoas que conseguem deletar tudo o que viveram do passado, e entregar o coração pra primeira estranha que eles conhecem. Mas acho estranho, amor pra mim sempre foi algo sublime, sabe? aquilo que marca? aquilo que sangra? aquele vento que sopra na pele e chega até os ossos...Não entendo como conseguem trocar de amor tão rápido...mas o real motivo de estar aqui de novo é: "ela", e quem é ela? Basicamente a dona da minha ansiedade, a dona do meu coração, a dona das minhas noites mal dormidas, a dona do meu desespero, enfim, a inquietude da minha alma nesses anos todos. 

   Ontem, ela veio a mim através de um sonho, estava possuindo um longo vestido branco e um sorriso confortante - tudo me soava como uma pintura impressionista, ela conseguiu capitar toda a luz de um passado cheio de sonhos e metas, e os refletiu sobre mim. Fiquei estasiado, por vela novamente, por ela estar tão bonita e tão cheia de vida (como eu me lembrava ), só conseguia exibir um sorriso de plenitude por tal situação, e assim seguiu. Lembrei-me de poucas coisas do sonho nesta manhã, estava tão determinado em pintar tudo em minha mente, desesperado pra não deixar um "quadro" fora da minha galeria. Porém, foi em vão, o que sobrou foi a última cena: eu abraçado em suas pernas, agarrando-as com toda a força que eu tinha, e com aquela sensação em mente: tenho certeza que isto é um sonho...

Obs.: Te enterro aqui deusa pagã, o que adiantou ir embora deixando a lua frente a minha janela. Mas te enterro aqui, e de vez, você não irá povoar meus pensamentos de novo e não gastara meu latim limitado. Enfim...

liberto...

(gritos na caixinha azul).
A saga (realmente) teve fim. 


segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Insight

" Eu a acompanhava enquanto ouvia Ian Curtis sussurrando em meus ouvidos: I'm not afraid anymore"


Ela estava lá, em repouso cumprindo as leis do infinito enquanto eu degustava cada passo pra "encontra-la". E foi assim, beijando o acaso que tudo começo. Entre os comprimentos convencionais e os risos de primeiro momento senti os primeiros impulsos do "Insight" vindo em minha direção. Era uma mistura de sensações das quais não podia demonstrar nenhuma, afinal como eu explicaria a ela que já havia sentido o calor das suas mãos.

"But we remember when we were young"

Ao passo que o tempo seguia, a luta interna começava: o subjetivo da minha alma com o ceticismo do meu espirito perante a situação. Eu a devorava sem pudores seus gestos e palavras, era um culto a ela que só terminava porque o cigarro queimava entre os dedos. Em contrapartida, a sensação que já a tive um dia, e que estávamos nos reencontrando para falar tudo o que omitimos no passado, porém, meu português era limitado por uma pergunta: por que você demorou tanto?

"Sons of chance take good care"


Completamente desarmado e manifestando um cavalheirismo desajeitado, eu me rendi a adoradora da lua, enquanto ela sorria por me achar tão atrapalhado . Entretanto não podia falar o peso da situação, e tudo aquilo que estava realmente exalando entre minhas mãos e num momento de pura coragem aliado ao calor da situação, a beijei! Não podia segurar tanta plenitude ao ver que tudo foi reciproco e que a minha atitude nada convencional não a assustou de forma alguma, e assim seguiu a noite onde as únicas protagonistas eram: a lua e sua adoradora.














sexta-feira, 22 de julho de 2011

Ápice do Anonimato - III, A Saga Teve Fim


"Sua vida é como todos os cigarros do cinzeiro que fumou. Pra cada um deles, uma história e um desconforto diferente , o gosto do próximo é sempre pior que o anterior, e mesmo assim, você nunca para, nunca para..."



Por ele procurar, incessantemente, um desfecho de números aureos, um encerramento cheio de glamour que merece ser lembrado, que o mesmo fechou o livro sem mesmo terminar a história. Não por falta do que contar, e sim, do porquê contar. A linda corrente do infinito, se cruza, ela sabe onde começa e sabe onde irá chegar, porém, o porquê de tudo isso, soa como lindas incognitas esparsas numa folha de papel em branco.

É possivel pensar que as derrotas sirvam para fundar alicerces ainda mais fortes, e toda aquela psicologia convencional sobre as dores da alma. Porém, algumas marcas e lágrimas nunca mais saem do rosto, cauterizado no corpo chegando até a alma. Entretanto, a lucidez apesar de anônima era latente, o mundo subjetivo por fora e o vago real por dentro. E pensar que você só perde, só perde...


"Você se livra das folhas pra enfrentar o inverno"


Ele esqueceu quem era, e precisa de um resumo pra descobrir quem foi. O Passado e o futuro não andam de mãos atadas, e sim andam em lados opostos da rua da vida. Fadado a escolher um caminho, preferiu o mais inerte, o mais convencional e trágico. Perdendo a sensibilidade nas mãos, cansou de segurar a foto de any, deixando-a no cinzeiro, queimando junto com o cigarro e o passado... a saga teve fim.




segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Ápice do Anonimato - II, Any

Pensou: "Este é o inicio de uma intensa felicidade... no entanto, era a própria felicidade"(...)

Lamentou-se frente a parede que transpirava mais do ele, enquanto lembrava daquela tarde que passou com Any. Ainda podia sentir o sol do passado contrastando com a chuva daquele dia tão intenso - o céu estava nublado denotando que o passeio seria curto como a chuva de verão que estava por vir. Por outro lado, quandos as mãos estão aquecidas nada mais importa, só o calor e a glória do momento, isso fez com que ele e any se entregassem para aquela pequena parcela de vida, enquanto as finas gotículas de água começavam a cair sobre suas faces.

As marcas sobre a grama revelava cada lugar onde estiveram no parque. Em uma delas, estava o óculos que any acabara de perder. Mas quando notou o sumiço, voltou imediatamente pra busca-lo. Ele não exitou, ao ver que os oculos dela estavam embaçados pela chuva, os limpou (meio que sem jeito) em sua camiseta branca, que, obviamente, ficou toda manchada. Ela sorriu ao ver sua atitude nada convencional de lidar com aquele tipo de situação, parecia que seu cavalheirismo desajeitado a conquistava ainda mais. E assim, a cada gesto ficava mais intenso essa admiração, que só terminava quando um beijo acontecia.
Any, era tão destemida que brincava com o jeito dele . Mas de uma forma que o constragesse, adorava ve-lo olhar pra baixo com as buchechas vermelhas. Enquanto ela se continha pra não beija-lo. Ela era uma criança em corpo de mulher, sempre que podia, corria à frente dele pra achar algo e fazer uma travessura, enquanto ele olhava encantado e admirado por toda coragem e expontaneidade que ela exibia. A devoção daquele momento era tão grande por parte dele, que o mesmo ficava a maior parte do momento cortejando-a - quase não podia conter o sorriso de sua alma.
Entretanto, a chuva chegava ao fim, deixando o sol marcar o final de tarde. Com isso, eles proveitaram os raios de sol que viam dentre as frestas das árvores. Mas a tentativa de secar suas roupas foi em vão, sabiam muito bem que não havia sol suficiente para os dois, e numa tentativa frustrada de aumentar mais o passeio, tiveram que voltar pra casa.
Naquele momento, com ela em "mãos", cobriu-na como se estivesse achado um passarinho que acabara de cair de um ninho. Pensou: "Este é inicio de uma intensa felicidade... no entanto, era a própria felicidade". Esse pensamento ecoa em sua alma, e inrigesse suas veias, restando apenas o descontentamento de chegar a conclusão de que a vida é um livro grosso de letras minusculas, onde você se diverte mais lendo a sinopse da capa, do que o livro em sí. As vezes é mais fácil pensar que algo não existe mais...

sábado, 8 de maio de 2010

Ápice do Anonimato - I


"Corpus omne perseverare in statu suo quiescendi vel movendi uniformiter in directum, nisi quatenus a viribus impressis cogitur statum illum mutare", Isaac Newton.

Mais um dia, e ele se perguntava o porquê de todo o "perpetuum mobile" (moto-contínuo), enquanto comprava o jornal e o cigarro, completando com êxito mais um dia de sua rotina de trinta anos. Talvez, ele já estivesse falecido há trinta anos, mas seu corpo se manteve em inércia, cumprindo as leis do infinito e da metafísica que lhe são convencionadas. Com seus oitenta e poucos anos de pura lucidez e conformismo, era mais um dia que ele sorria condicionadamente ao jornaleiro, enquanto o mesmo entregava-lhe seu troco. Preso no grande circulo de corda infinita, que por sinal, lhe era bem confortável. Entretanto, o ar atracava-o como se fugisse de seus pulmões, sentenciando o dia atipico que viria a ter.

Ancião de todas as glorias não alcançadas e de todos os amores perdidos, que por sinal, viviram cartas empoeiradas guardadas em caixas. Depois dos cinquenta, passou a evitar relações de qualquer tipo. Ele sabia que todos iriam embora no final, quer queira, quer não. O desgaste de toda a metafísica de qualquer relação, o que consistia em conhecer, achar alguém, se interessar. fazer-lhe enteressado, brigar. Evitar o atrito, era esse o lema. Não queria mais paradoxos, não pela sua idade e sim por sua fadiga, e que sua vida já era tão cheia de curvas que mais uma seria desnecessária. Ele sabia que o que diferenciava os jovens dos velhos, não era sua disposição das coisas, nem seus traços cortandos frente ao espelho, e sim, o brilho perdido pela ânsia dos afazeres e das derrotas.

Porém, naquela manhã o dia estava intragavel, sentia uma enorme dificuldade em ser, o que consistia em: retomar, viver, sentir, permanecer lúcido. No passado, já tivera um enorme desconforto similar a esse, mas passou após uma noite de ebriez. No entanto, o dia de indagação chegara, e com ele a HORA de desatar as duas pontas que uniam o ciclo infinito de sua vida, descobrindo assim, em que parte do trageto ele realmente permaneceu.

Assentou-se no velho "sofázinho" , frente aos porta-retratos na parede. Reparando se o sorriso amarelo nas fotos eram do tempo, ou realmente seus dentes sempre foram daquela cor. Pegou o porta-retrato e viu Any, sua esposa que faleceu ainda jovem. Permaneceu um tempo com ele em mãos, depois o colocou no mesmo lugar para enfim descansar como tudo em sua casa. Em mente, a velha sensação de já ter ouvido todas as canções do mundo...

Continua...

domingo, 25 de abril de 2010

Clear


Uma longa respiração de bom dia revelam devaneios da noite anterior. Então, você acha que um banho resolvera tudo, te confortará pelo fracasso da noite passada. Mas, não, ele só afirma o quanto está frágil, o quanto você deixou pedaços de vida em sua busca por conforto momentâneo. E você senta à beira do chuveiro, esperando uma síntese de tudo, um acordo de paz entre você e você, enquanto a agua quente "alivia" sua dor de cabeça intensa. Depois de algum tempo, você começa a perceber que até água do banho esta lhe agredindo de alguma forma. Quando menos espera, você vê a sua sujeira esvaindo-se pelo ralo. Toda a sua sujeira, que você não limpa, só transporta de um lugar para o outro, como uma alusão a história do debaixo do tapete. E assim você pensa: "estou limpo", pronto pra começar. Porém, todo aquele excesso de pele morta e impurezas eram as unicas coisas que te protegiam do ambiente, seu corpo era toda a sujeira que se foi pelo ralo.